Gole d'água #3 | Guarnição à Francesa
Como carioca, eu tenho um xodó danado desse acompanhamento delicioso. Então, além de comer algumas vezes na minha temporada no Rio resolvi entender sua origem.
A gastronomia carioca tem suas lendas, histórias e pratos. Confesso que precisei sair da cidade para conseguir enxergar valores nessas diferenças. Inclusive, no Rio, em geral, se acham farofas muito melhores que em São Paulo (qualquer dia desses falo disso). Mas, esse gole vai fazer você lamber os beiços com algumas curiosas histórias e lugares da cidade maravilhosa.
Nessa história tem filé à Osvaldo Aranha, Feijoada, Picadinho e assim vai. São muitas lendas encantadas que nasceram nos bares e botequins dessa cidade. Inclusive, a herança portuguesa nessa gastronomia é enorme, uma hora vou falar sobre isso, mas acho que não será um gole, será diluído mesmo. Então, pra chegarmos na minha guarnição preferida, preciso falar de um patrimônio imaterial da cidade, o Nova Capela.
Inaugurado em 1903, ele viu a história da cidade se transformar, principalmente por sempre ter habitado a Lapa, o bairro que hoje é conhecido como o lugar da boemia carioca. Não é a toa que mudou de endereço dentro do mesmo bairro por conta do processo de urbanização da cidade. Mas há mais de 50 anos tá no mesmo lugar na Mem de Sá. A casa é conhecida pelo famoso cabrito -que, aliás, sempre foi cordeiro - com arroz de brócolis (esse é outro acompanhamento que o Rio pisa na galera) e batata corada.
O Capela mora no meu coração há muitos anos. Me lembro de ir comer lá criança nos almoços de domingos que saíamos da Tijuca pra comer pelo centro, mas foi quando trabalhei na Lapa que o amor ficou mais forte, foram memoráveis almoços e fins de noites com bolinho de bacalhau de entrada, chope gelado, cabrito e às vezes pudim. Inclusive, uma vez, o Zico tava na mesa do meu lado. Fiquei nervosa e os caraios. Kkkkk.
Mas, por que to falando do Nova Capela? Bem, foi lá que nasceu esse clássico acompanhamento: a guarnição à francesa. Reza a lenda que um cliente francês inventou a guarnição que é feita de batata frita, tradicionalmente mais fininha que a palito, cebola, presunto e ervilha refogados na manteiga, a ideia é sempre que esses três últimos sejam mais úmidos abraçando a comida toda. Há tempos como filé à francesa, mas quando fui pra São Paulo, percebi que essa era uma tradição carioca.
Então, onde comer um bom filé à francesa no Rio?
Café Lamas
Um bem conhecido da cidade é o do Café Lamas, aberto em 1874 no bairro do Flamengo. Inicialmente situado no Largo do Machado, em 1976, mudou-se para a Rua Marquês de Abrantes – rua na qual se encontra hoje em dia – devido às obras do metrô.
Funcionando 24 horas, o Lamas reúne a boemia carioca e, durante muitos anos, foi conhecido na cidade por ser ponto de encontro de artistas, jornalistas, políticos e intelectuais. Inclusive ele está no trecho de uma música Rio Antigo (Como nos velhos tempos) de Chico Anysio e Nonato Buzar, famosa na voz da Alcione.
Meu Cantão
Eu não sou carioca, eu sou tijucana, né mores?! Óbvio que eu ia vir com um bairrismo por aqui. O Meu Cantão é na esquina da minha casa, aberto desde 1977, a casa especializada em churrasco tem um ótimo filé à francesa feito na brasa. A batata não é tão fininha quanto a do Lamas, mas pra mim não perde em nada na entrega. O prato super bem servido é R$135, se pedir o imperdível pastel de catupiry antes divide por três fácil.
Curtiu? Já comeu? Tem uma guarnição preferida? Me conta aqui.
É isso! Inté o próximo gole!
Beijo tchau
Serviço:
Café Lamas
R. Marquês de Abrantes, 18a - Flamengo, Rio de Janeiro - RJ, 22230-061
Meu Cantão
R. Dona Zulmira, 53 - Maracanã, Rio de Janeiro - RJ, 20550-160
Fontes:
https://oglobo.globo.com/rioshow/rio-gastronomia/nova-capela-porto-seguro-da-boemia-na-lapa-ha-mais-de-um-seculo-25003827
https://cafelamas.com.br/
No restaurante é salão de chá Cirandinha, na Av. Nossa Sra de Copacabana, comia-se uma guarnição à francesa espetacular. Infelizmente o estabelecimento fechou as portas em 2016, depois de mais de 50 anos em funcionamento.
Quando li o trecho sobre a farofa quis abraçar esse texto pq concordo plenamente, rs, a farofa paulista perde muito para a carioca e o arroz de brocólis tb (entre outras coisinhas gastronômicas). Eu não tenho muita memória dessa guarnição mas acho uma delicinha e adorei as indicações.