Gole d’água #10 | Tudo que você precisa saber sobre segurança alimentar.
Nesse Gole vou explicar um pouco do que está por vir na próxima Diluída. Afinal, a questão da fome é latente e tá batendo na nossa porta. Vou apresentar alguns conceitos que vou falar bastante.
Falemos a verdade, mas essa era para ser uma diluída, mas comecei a escrever sobre a fome, comecei a pesquisar tanto que até no site de dados da FAO eu entrei. Então, senta que semana que vem, ela chega botando Água no seu Feijão.
Mas enquanto isso, decidi situar vocês com uma questão, um termo, um indicador, que temos falado muito, mas poucas pessoas sabem exatamente o que é: SEGURANÇA ALIMENTAR. Vou explicar também sobre outras coisas e principalmente fazer você entender que a fome é POLÍTICA. No caso do Brasil atual, uma política pública. Inclusive.
Segurança Alimentar
No Brasil, quase 60% da população vive em insegurança alimentar em algum grau. Insegurança alimentar não é uma expressão nova — "gourmetizada", como dito nas redes — para a fome.
De acordo com a Oxfam Brasil, a expressão "segurança alimentar" começou a ser usada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) logo após a Segunda Guerra Mundial. Na época, tratava-se de um termo militar. Para um país ser forte internacionalmente, ele precisava ser autossuficiente tanto em armas quanto na capacidade agrícola de abastecer a própria população.
A partir da Conferência Mundial da Alimentação, promovida pela Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), em 1974, a expressão passou a ser usada para explicar o fenômeno social da falta de acesso a comida no mundo, levando em conta todos os problemas de abastecimento, disponibilidade e inflação dos preços dos alimentos.
Atualmente, o quadro de insegurança alimentar diz respeito ao indivíduo que não possui acesso físico, econômico e social a alimentos saudáveis e de qualidade para fazer todas as refeições necessárias. Mas você conhece os graus de insegurança?
Eu ando numa fase muito analítica dos dados. Então, se liga aqui:
A maioria da população vive com algum tipo de restrição, quase 60%. A desigualdade entre as regiões do país são fodas. No Norte, 71,6% da população tem insegurança, já no Nordeste são 68%. Nas regiões Sul e Sudeste os índices são melhores. O que mostra não só a concentração de renda, mas como também recursos e investimentos públicos e privados que geram desenvolvimento econômico.
Devemos deixar claro que, esses são dados sobre acesso a alimentos. Esse não é um indicador que fala da qualidade deles. Por isso, aqui, principalmente nas nossas periferias das grandes cidades temos algumas questões importantes e a pra gente entender que tipo de alimento as pessoas tem acesso.
Desertos Alimentares: o que são? Onde estão?
Os desertos alimentares são locais onde o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados é escasso ou impossível, obrigando as pessoas a se locomoverem para outras regiões para obter esses itens, essenciais a uma alimentação saudável.
Segundo o IDEC, bairros periféricos ou com baixos indicadores sociais são, em geral, locais onde o acesso a alimentos adequados é mais difícil. Os moradores dessas regiões precisam ir até o centro da cidade ou a outros lugares com maior poder aquisitivo, onde ficam concentrados os hortifrutis, as feiras, peixarias, açougues, mercearias, supermercados, hipermercados e demais estabelecimentos onde é possível encontrar alimentos in natura ou minimamente processados.
Um mapeamento da CAISAN (Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional) apontou que, em 12 das 21 capitais brasileiras, o grupo de subdistritos em que existe uma quantidade menor de estabelecimentos que oferecem alimentos saudáveis é também o grupo de menor renda.
Segundo a doutora em Ciências e pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), especialista no ambiente alimentar urbano do município, Ana Clara Duran: “Ouve-se muito que as pessoas em regiões mais afastadas da cidade e do país estão aumentando o consumo de comida processada, mas primeiro precisamos analisar a logística de distribuição para esses lugares, como está e se está chegando alimento fresco lá”, diz.
A dificuldade geográfica no acesso a alimentos nutritivos é um obstáculo significativo para que uma parcela considerável da população tenha uma alimentação adequada e saudável. Por isso, políticas públicas que incentivem a criação de feiras livres e de outros locais que facilitem o acesso a alimentos in natura ou minimamente processados pelas cidades, reduzindo as desigualdades, devem estar no radar dos gestores públicos: a alimentação saudável é condição intrínseca ao exercício da cidadania.
Qual a importância disso?
A verdade nua e crua é que a fome sempre existiu no nosso país desigual. Para vocês terem uma ideia, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), só foi aprovada no ano de 1999, e começou a integrar os esforços do Estado Brasileiro que, por meio de um conjunto de políticas públicas, propõe respeitar, proteger, promover e prover os direitos humanos à saúde e à alimentação.
Mas uma das primeiras ações do governo que mais combateu a fome foi montar um sistema e um conjunto de leis em 2006 criando marcos legais e institucionais – como a criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN); a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA); a instalação da Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN); e a claro a elaboração de um novo Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PLANSAN 2012/2015). E adivinha qual foi uma das primeiras coisas que o governo atual extinguiu? Todo esse sistema.
O Guia Alimentar da População Brasileira, por exemplo, é uma referência global nessa questão. Para quem, como eu já se debruçou sobre o ele. São 158 páginas de muita informação e indicações simples que informam as pessoas sobre hábitos que são saudáveis e que não são, no âmbito individual ou coletivo. Ele ajuda a guiar a nutrição e da apoio às ações de educação alimentar e nutricional no SUS (Sistema Único de Saúde) e em outros setores. Recentemente o lobby da indústria alimentícia tentou com muitos esforços mudá-lo, mas a pressão da sociedade civil foi maior. Eu sou fã demais do Guia, tenho críticas? Claro, sou eu, né?! Rs.
A verdade é que a fome, a insegurança alimentar e os desertos fazem parte de um ciclo de políticas públicas e privadas que fomentam isso. As marcas de produtos alimentícios ultraprocessados, se valem dos desertos alimentares para chegar com suas eficientes logísticas as pequenas vendas das periferias, nas favelas ou em barcos para a população ribeirinha da região Norte.
Nessa imagem abaixo, tem um pouco do que o nosso Guia fala sobre os tipos de alimentos e quais as diferenças entre os: in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados. Confesso que não gosto muito desses termos mais tecnicistas e menos inclusivos, mas com a explicação fica fácil de entender. Eu e minha amiga Patty Durães partimos da mesma premissa: “Descasque mais e desembale menos.”.
A desinformação, o desmonte, o lobby e tantas outras ações estão nos deixando nessa situação. Isso sem contar a influência global. Mas bem, isso fica pra semana que vem, com a diluída. Só deixo a dica: SE A SUA MARCA FALA DE ESG E NÃO FALA DA FOME, TÁ ERRADO!
Se você conhece alguém que curte o assunto, tá preocupado com isso?Compartilha e fala pra assinar, porque semana que vem eu vou botar muita água nesse feijão. A fome tá aí. Não olha quem não quer.
Um compilado-pesquisa de responsa. Obrigada! Que situação mais complicada.