Gole d' água #6 | Nada na vida vem aos poucos

Um pouco de explicação sobre o meu sumiço, com um gole de coragem pra recomeçar.

Eu estava super animada com o começo de 2022, terceira dose de vacina à vista, os Goles e Diluídas por aqui vinham fazendo sucesso, o trabalho estava fluindo e eu voltava pra casa depois da minha longa temporada de férias e fim de ano com a minha companheira de aventuras, a Salsinha. Tava bem feliz.

Eu morro de saudades da minha vida de quintal em São Paulo.

Mas assim que saí do Rio, minha mãe começou a apresentar alguns problemas neurológicos, no começo achamos que era uma depressão, depois fomos entendendo que se tratava de uma Encefalopatia e a internamos para poder aprofundar a investigação e exames.

Bem, nisso ela foi parar no CTI e numa tomografia encontramos nódulos no pulmão. O que nos levou a doença de base, um câncer de pequenas células neuroendócrinas já em estado metástico. Ou seja, todas as questões neurológicas estavam ligadas a isso, já eram sintomas do avanço da doença.

Uma das noites com a minha mãe no hospital.

Mas, acompanhando o título, nada na vida vem aos poucos, quando minha mãe internou vim pro Rio, pedi uma semana no trabalho para conseguir organizar a vida aqui, minha equipe linda segurou as pontas pra mim. Mas, na segunda, dois dias depois da saída da minha mãe da primeira internação, voltei a trabalhar e fui demitida. Fui pega completamente de supresa.

Mas voltando a minha mãe. Em breve, vou contar aqui um pouco da minha relação com ela e diversas histórias que temos juntas. Encarar de frente que ela está morrendo tem sido um processo ao mesmo tempo exaustivo, mas transformador. Eu não tenho dúvidas que não vou sair a mesma desse processo.

Tirei essa foto na manhã do dia seguinte que descobrimos tudo. Uma noite longa, em claro aos prantos.

Encarrar de frente tudo que se apresenta, é uma característica que tenho. Não tenho medo de nada depois que já fali duas vezes e paguei uma dívida bem grande no banco. Por pior que seja tudo que está acontecendo ao mesmo tempo. Me coloquei de pé para encarar tudo como pude. Mas, depois de quase dois meses no casulo, pensado, estudando e tentando olhar pra mim e pro mercado de forma gentil para entender se me adequo com tudo que está acontecendo ao redor. Resolvi retomar as coisas por partes. Não posso mais ficar parada.

Primeiro, serei gentil comigo. Não vou trabalhar mais em lugares que ferem a minha ética. Segundo, vou me dar o devido valor de mais de 15 anos de experiências não lineares e fora do normal no mercado de comunicação, sem contar as milhares de horas investidas em repertório, técnicas e escutas ativas sobre comunicação, história, arte, sociologia, antropologia e diversas questões sociais. Como? Ainda não sei, mas prometo que assim que descobrir eu conto.

Aproveitei o tempo livre pra construir as coisas do jeito que mais gosto. Primeiro, no dia da minha demissão, Iansã já se apresentou e me deixou claro que não estou sozinha. Outra coisa que não fazia há muito tempo era abrir um jogo completo de Tarot pra mim. Foi ótimo, mas como sempre um total de zero respostas, mas me trouxe muitas luzes sobre tudo. Tenho revisitados livros, como um xodó antigo, o livro, O Herói e o Fora-da-Lei: Como construir marcas extraordinárias usando o poder dos arquétipos da Margaret Mark e da Carol S. Pearson e Consumidores e Cidadãos do do Nestor Garcia Canclini. Alguns questionamentos e trocas com amigos também tem me ajudado a entender qual será o meu próximo passo.

Foto que tirei de uma das paredes da Ocupação 9 Julho.

Hoje, com minha mãe no quarto do lado, Salsinha do lado no seu soninho. Voltei a fazer planos e nada melhor do que começar retomando esse espaço que tantos gostam. De todos os Goles, o mais difícil e desafiador. Levantar a cabeça com tanto sentimento misturado no peito é uma das coisas mais difíceis que já fiz. Sei que as lágrimas não vão parar, mas como bem disse a psicanalista: “Você sempre cuida das pessoas, mas precisa também cuidar de si.”