Diluída #6 | Basta estarmos vivos
Uma reflexão de alguns impactos e transformações que estou passando. Meu avô sempre dizia: "A única certeza que temos é que a gente vai morrer."
Bem, começo pedindo desculpas pela ausência, eu expliquei um pouco no Gole #6, mas agora vou detalhar um pouco mais e trazer aquelas reflexões que só a Diluída faz por você. Espero que você esteja pronto. Confesso que me preparo para falar sobre isso há muito tempo.
Deixei de escrever por aqui para passar a transformação mais profunda dos últimos tempos. Me ausentei pra tentar fazer com que a ficha caia, mas veio um meteoro. Então, essa diluída vai falar sobre o nosso constante estado de impermanência e incertezas, no fluxo, no tempo decolonial, no tempo da natureza, no tempo do tarot que me guia em muitas coisas, no Kin do dia, dos Orixás. Ou porque sua mãe é descoberta com um câncer em estado terminal e você acaba de ser demitida.
Então, pega uma bebida que você gosta e vem comigo.
Senta que lá vem fofoca...
Uma das coisas que faço pra mim há muitos anos é olhar o Tarot, cartas do ano e assim vai. Hábito que a minha mãe me deu. Por isso, na primeira diluída do ano vou trazer a carta do ano pra todo mundo e depois conto um pouco mais da minha que chegou de voadora com dois pés no peito.
Tarot: Carta do Ano
Assim como fiz no ano passado e trouxe um tico de previsões pra 2022 de acordo com o Tarot que eu estudo. Em 2022, a carta do ano é Os Amantes, o 6. Sem dúvida, nossos corações vão bater mais forte, mas como? Vou tentar esclarecer um tico, mas o ponto principal dela pra mim é FIQUE ATENTO AOS SINAIS.
Olha, você pode ter milhares de interpretações dessa carta que fala fundamentalmente de amor, mas ela vai bem longe desse amor romântico idealizado construído pelo patriarcado, ela fala da possibilidade de ampliar consciência através de relacionamentos. As energias masculinas e femininas estão em comunhão e conscientes do que está acontecendo. É sobre a aptidão humana de se relacionar.
Pensamento: Engraçado essa carta num ano de eleição tão complexo como esse que vem, né?!
Com isso, 2022 tem as pessoas como centro, sejam aqueles que estão ao seu lado há anos, ou aqueles que entrarão. Mas entenda, as relações serão verdadeiras ou as mesmas não vão permanecer. Ou seja, pra quem tá ligado as falcianes vão se apresentar de cara. Se mantenha atento.
Em um dos livros que leio para interpretar a carta, tem uma série de perguntas que achei bem pertinente de trazer aqui pra vocês: Como vai sua vida afetiva? Está em paz ou em conflito? Que lugar tem amor na sua vida? Faz o que gosta? Reflita sobre isso em todas as esferas da sua vida. A afirmação pra esse ano é: “Estou agora pronto pra encontrar o parceiro que sempre sonhei.”
Bem, 2022 nos trás um convite pra amar e se ligar quem está ao seu lado. Interessante, não?! No meu caso, vem pela frente um encerrar de círculos com pessoas que amo pela frente. A impermanência é certa.
Olá, Morte, tudo bem?
Quando vi que a minha carta desse ano era a Morte no Tarot, eu automaticamente pensei: "Ah, não! Pelo amor de dadá! Não quero mudar nada não. To bem assim." Bem, vocês já sabem tudo que tá acontecendo e a carta nunca fez tanto sentido no meu ano.
Mas a morte, nas cartas, não tem nada haver com morrer. A verdade é que ao ter a morte como a carta regente do seu ano, isso quer dizer que chegou o momento de mudanças profundas. Necessidade de renovação, realiza-la é entrar por um Mundo Desconhecido mas de se libertar daquilo que sufoca, é como a serpente que muda constantemente sua pele.
Confesso, que no meu caso, não achei que a mudança fosse ser tão profunda. Eu já tinha pensando sobre como alguns aspectos do meu ex-emprego me afetavam. Me feriam. A minha relação com o trabalho foi construída e sofreu por muitas transformações ao longo do tempo. A maior delas, foi ter durante uns bons anos uma total liberdade e gestão do meu tempo. Tendo uma relação mais gentil e mais livre. A verdade é que aproveitando que tudo mudou, estou em busca dessa liberdade de novo.
Mas nada na vida vem sozinho, a questão com a minha mãe também me trouxe reflexões. Afinal, na nossa relação, uma das coisas mais legais que a gente construiu foi nos apoiarmos. Ela sempre foi a maior incentivadora de tudo na minha vida, suporte emocional e até mesmo financeiro. Um privilégio enorme.
Agora, nesse novo momento que se inicia na minha vida, preciso resgatar e estabelecer essas mesmas conexões com o trabalho e com a ausência da minha mãe de uma nova forma. Mas, por que to comecei falando sobre tudo isso? Porque acho muito importante a gente começar a falar e a olhar a morte de uma outra forma.
A única certeza que temos na vida, desde a hora que a gente nasce é que vamos morrer. Nesse caminho do ciclo da vida, vamos fingindo que ela não existe. Mas basta estarmos vivos pra entender que ela bate na nossa porta. Sem avisar. E principalmente, negligenciamos alguns lados da nossa vida, principalmente a saúde e a conta pode chegar salgada.
A verdade é que tem um tema, que tá ligado a isso tudo que penso bastante, desde que fiz uma estratégia de conteúdo para uma empresa que falava de Longevidade e buscava desmistificar a questão do etarismo. Essa diluída, na verdade é sobre isso.
O mundo está envelhecendo.
Todos nós já sabemos, porque dá pra ver, mas a real é que em 2060, segundo o IPEA, 1 em cada 4 brasileiros terá mais que 60 anos.
Falando de mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões de pessoas até 2050; isso representará um quinto da população mundial.
A verdade é que os estilos de vida e a saúde de pessoas de 60+ anda bem diferente. Os avanços da medicina. Ou seja, no meu ponto de vista, haverá uma grande corrida para começar esse diálogo com esse enorme mercado consumidor negligenciado. Então, a vamos entender um pouco a formação do padrão jovem de beleza e estilo de vida (Alô, publicitários!) e como a imagem de alguém 60 mais é completamente diferente.
O termo “idadismo” ou ageism em inglês é relativamente novo e, ao que tudo indica, foi usado pela primeira vez em 1969 pelo psicólogo norte-americano Robert N. Butler. Na ocasião, o conceito foi criado para tentar explicar as opiniões contrárias à construção de uma habitação para idosos em uma comunidade local. Palmore (1999) , ampliou o uso do termo para preconceito ou discriminação contra ou a favor de um grupo etário. Ele nada mais é do que é uma forma de preconceito sofrida por pessoas por conta da idade, sobretudo, em relação aos indivíduos mais velhos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o idadismo tem três dimensões: estereótipo (pensamentos), preconceito (sentimentos) e discriminação (ações e comportamentos).
Ainda de acordo com a entidade, em seu estudo Global Report on Ageism, o idadismo apresenta três níveis de manifestação (institucional, interpessoal e autodirigido) e conta com dois tipos de representação: explícita (consciente) e implícita (inconsciente).
“Hoje, mais do que nunca, idosos precisam de proteção mais forte para desfrutar plenamente seus direitos. Mas a realidade é que os marcos legais internacionais, que deveriam proteger a todos sem discriminação, ainda tornam os idosos invisíveis”, disse a alta-comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet.
A verdade é que envelhecer na nossa sociedade eurocentrada é acreditar que tudo que vem com a maturidade é ruim, envelhecer é uma sentença de morte. Esse é um tema longo, que vou me debruçar ao longo de outras diluições. Tenho muito assunto pra falar disso, uma vez que já fiz um projeto sobre isso.
Por que buscamos ser sempre jovens?
Em 2019, num trabalho para Coca-Cola, falamos sobre Longevidade para todo o time de Marketing, a principal convidada foi a Claudia Raia, maior nome da campanha de influenciadores que fizemos para a bebida vegetal Ades. Pra gigante da indústria de bebidas, esse evento foi um marco temporal para fala sobre isso. Tem algum tempo que a Claudia, vem quebrando o tabu de mulheres falarem das suas idades e do medo de envelhecer, ainda tem um discurso bem gordofóbico e restritivo alimentarmente, mas sobre isso vou falar um tico mais na frente. Vou focar na questão do mito do que é bom é jovem.
Pra mim, ela trouxe um discurso que não nenhuma novidade, o etarismo está aí nas empresas há muitos anos. A verdade é que as industrias da publicidade, moda e beleza há muitos anos vendem o jovem, sensual, bonito, pele cheia de colágeno como o ideal de imagem que devemos perseguir.
Na coluna da Daniela Chiaretti para o valor econômico, ela disse: ““Mais velhos” é expressão elástica quando se trata de emprego. “As empresas já estabeleceram como idade de corte os 45 anos”, diz Jorge Félix, professor de gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, estudioso do tema e que contou a história acima, de Bernstein e Butler. Para além dos 45 anos, na lógica comum ao setor privado, há “dinossaures” que custam caro e não acompanham a tecnologia seja no chão de fábrica seja no escritório. “Os processos de produção mudaram e a experiência pode incomodar se o que se quer é produtividade, mesmo às custas de baixar a qualidade do produto”, diz Félix.”
“Os mais velhos não estão na agenda ESG. O mundo corporativo pensa em creches para reter a mão de obra feminina e em cursos para jovens. Muito bom e acertado, mas e os outros? “Como não há interesse na mão de obra idosa não há programas de qualificação nem nada”, diz Félix, que prefere a tradução “idosismo” ao termo de Butler. “Algumas empresas colocam que têm idosos em seu plano ESG porque criaram cinco vagas para gente com mais de 50. É perfumaria. Não responde ao envelhecimento da população.”
Então, como sociedade, precisamos discutir a questão o quanto antes. Até, porque, podemos olhar como sociedades não eurocentrica olham os seus mais velho. Na filosofia africana, por exemplo, os mais velhos são os mais sábios, os mais respeitados, sempre. No terreiro, quando um mais velho fala, TODOS tem que ficar calados. Confesso, que nas primeira vezes, ao sentar no barracão pra ouvir histórias de mais velhos me emociona a muito.
Por que não ter esse respeito?
Você pensa em como vai envelhecer?
Bom, eu estou focada em pensar como fazer isso de forma saudável e sem dúvida em companhia. Afinal, uma das principais questões que muitos mais velhos enfrentam é a solidão e o abandono. A doença da minha mãe e cuidar da salsinha velha e abandonada me fazem pensar muito sobre isso.
Tenho pensando muito na minha dificuldade de arrumar um trabalho fixo depois que tudo isso aconteceu. As vezes, penso muito se a minha idade não pesa nisso. Será? Ou tô com a mania de perseguição de pisciana?!
Mas um fato que, coincidência ou não, durante as minhas férias com a minha mãe, conversei com ela sobre isso. Quais eram seus planos para a velhice e ela me disse que não tinha. Bem, agora a vida se encarregou de dar o tom.
E agora, se faça essa pergunta ou pergunte para os seus pais: “Quais são os planos para sua velhice?”
O que mais você precisa saber?
Um mix das 20k de abas que vivem abertas no computador e que ele chora na hora que eu começo a mexer nele. 🥲
Difícil não falar do podcast a Mulher da Casa Abandonada, né?! Mas pra quem leu a Diluída #5, sabe bem que toda essa história é um puta privilégio branco. É o pacto narcisístico da branquitude todinho.
Bem, eu não vou botar o link aqui, mas eu queria desler a coluna do Washington Olivetto pro Globo semana passada. Que vergonha!
As Demissões no mercado de trabalho são uma realidade e também um privilégio branco, né?! Mas a Fast Company trouxe um bom ponto de vista.
O Brasil voltou pro Mapa da Fome e eu to começando uma campanha no instagram da Água no Feijão, mas tenho outros sonhos. Quem tiver interesse em sonhar comigo sobre essa dor, só responder o email.
Pra quem acompanha a questão agrária no Brasil, temos diversas visões. Eu como boa fã de O Joio e o Trigo deixo aqui o link de uma ótima reportagem sobre as novas fronteiras do agro.
Se você não ouviu a nova música da Beyoncé, por favor, faça isso. Eu to louca por uma pista com meus amigos e essa música tocando alto.
Até setembro está no MAR (Museu de Arte do Rio) a exposição Enciclopédia Negra. Para quem não conhece, essa enciclopédia é uma profunda pesquisa sobre personalidades negras que a história apagou. Como não existem registros de imagens, diversos artistas contemporâneos foram convidados para fazer seus retratos. A curadoria do MAR é primorosa. Eu sou apaixonada.
Espero que tenham matado a saudade. Eu demorei muito pra escrever, confesso que foi muita coisa ao mesmo tempo pra lidar e deixei muitas coisas de lado. Mas, a vantagem é que decidi que o segundo semestre será diferente. Então, esperem mesmo, sem conversinha, que vai ter muita coisa. Vem comigo que vai ser delícia, já tenho tema até o final do ano.
Aguardo os emails e feedbacks sobre a reflexão dessa vez.
Beijo tchau!