Diluída #3 | Ano novo, novas perspectivas
Email enviado em fevereiro de 2021, falando de um 2021 com um copo meio cheio.
Olá, Diluídes! Tudo bem?
Bom, por aqui tudo caminhando dentro do caos, de volta pra São Paulo, naquele meu infinito particular que falei pra vocês na diluída passada.
Por falar nela, que lindeza, hein?! Mó galera leu e me mandou emails deliciosos falando sobre tudo e os processos. Emocionei demais por aqui. Sem dúvida, isso dá mais vontade de continuar esse espaço de trocas. Uma coisa linda que percebi é que vocês abrem ela muitas vezes. Ou seja, a leitura e feita por partes ou até mesmo muitas vezes, isso me deixou muito feliz.
Mas ao mesmo tempo, estava escrevendo essa edição com um outro tema, mas a exaustão por conta de tudo não me deixou terminar. E aí, me peguei refletindo sobre isso, sobre o processo de transformação que a Pandemia tem feito em todos, principalmente em nós brasileiros. Nisso, entendi, que apesar de querer que ela tenha uma frequência quinzenal, eu to descobrindo que pra mim a mensal faz sentido. Beleza?
Senta que lá vem fofoca
Cê tá trabalhando no que?
To tocando um projeto com o ONU Habitat. Conheça.
Tá lendo?
Memórias da plantação da Grada Kilomba.
Assistiu algo bom?
Rainha do Sul.
Qual música no repeat?
To numa fase de playslists de música brasileira.
O que cozinhei ou comi?
To com preguiça de cozinhar. Pedindo deliverys variados. Meus xodós é o Notorius Fish e Nosh.
O que bibi?
Provei o cardápio novo do Koya88 aqui na vizinhança, bem bons os drinks.
Bora diluir? Passa um café gostoso e vem refletir sobre isso comigo. ;)
O que esperar de 2021?
Confesso, que todo dia, sem pular um, eu acordo e penso: "Bolsonaro, vai tomar no cu!". Eu ainda não sei se isso me faz bem ou mal, mas é um ritual de desabafo diário. Rs. Na atual conjuntura do país, não vejo outra alternativa. Recentemente, me peguei pensando sobre o quanto ele está se beneficiando com tudo isso. A real é que com a gente trancado dentro de casa, não tem mais passeata, manifestação ou protestos que não sejam esses escrotos panelaços nas janelas. Nesse imaginar, também sonhei com vão do MASP todo dia, amigos nos protestos, caminhadas, gritos e até um carnaval bem indecente com muito Golden Shower. Sonho meu virar jacaré. É uma sensação escrota de não saber o que tá acontecendo, né?
Nesse compasso da desilusão com o país eu vou trazer uma luz, trago algumas perspectivas que prometi sobre o ano, tarot e candomblé. As leituras são em cimas da carta do ano e do papo com minha mãe de Santo. As duas fontes são boas, mas lembra da news passada "NUNCA FOI SORTE, SEMPRE FOI MACUMBA"? Então, se você é vacilão, planta errado e quer colher certo, nada disso aqui é pra você.
No tarot que eu estudo, o do Aleister Crowley, a carta regente desse ano é o 5, o Hierofante ou o Papa em outros baralhos. Na Grécia e no Egito antigo, o termo era usado para designar os sacerdotes da alta hierarquia dos mistérios, guias espirituais que eram responsáveis por iniciações e transformações elevadas. Segundo Crowley, essa é uma carta que traz luz a consciência penetrando na escuridão da ignorância.
Ele é desperto, realizado, iluminado, um mestre espiritual que age como intermediário entre o humano e o divino. Ele tem unido dentro de si o masculino e o feminino, e os desenvolveu completamente. Ao mesmo tempo, ele pode ver o amor no outro e dar o que é realmente necessário e não o que o outro deseja. Lembre-se disso, um mestre não obedece aos seus discípulos. Mas, todo o processo de transformação provoca sofrimentos. O que essa carta nos deixa de recados? Luzes estão vindo, processos profundos de transformação estão acontecendo, crescimentos espirituais serão ótimos esse ano (se você tem um desejo de se conectar a algo, faça!). Outra coisa, envolver-se em grupos de crescimento pessoal pode ser um ótimo caminho. Mas seja honesto, aberto e receptivo nesses processos, só nunca se desgrude da voz do seu coração.
Na minha interpretação, esse é o começo da luz em algumas partes, mas não em todas, o mundo não está pronto ainda pra essa transformação completa e integral da gente com a terra. Mas habita em mim um fio de esperança que carrego comigo as certezas que trago no meu coração. 2020 foi uma ano de muitos aprendizados, espaços, ruínas, meio sem trégua. Mas, mesclando isso com a previsão da minha mãe de santo, eu ainda vejo mais coisa.
Segundo ela, o ano começa regido por Oxum, pra você que vê essa orixá como da beleza e da fertilidade, você tá só vendo o lado bom dela. Filhos e Filhas de Oxum são difíceis, futriqueiros, quando tem sua vaidade arranhada fazem um estrago e assim ela começa esse ano, fazendo um banzé (tamo em fevereiro e olha o tanto de coisa que já rolou). Segundo a mãe, até abril mais ou menos. Quando entra Ogum, senhor do ferro, da estrada, da guerra, das lutas, vai intervir por nós. Ogunhê, meu pai! Depois dele, lá pro segundo semestre entra Oya ou Iansã (o segundo nome foi dado por Xangô, o primeiro é um nome de um Rio do oeste Africano), ela que também é guerreira vai seguir os caminhos de Ogum e seguir lutando, mas não se esqueçam que essa é a senhora dos ventos e das tempestades. Teremos vitórias, mas não será na calmaria.
Em ambos os caminhos, tanto do tarot quanto do candomblé, vemos turbulências, dores, mas vemos também vitórias. Então, levanta a cabeça princesa, se não a coroa cai. Respira, bota força nessa peruca que os paranauês vão fluir. Só se liga no Hierofante que não é do jeito que você quer.
Ps: Sou filha de Oya, sei bem da força dessa senhora no meu Ori. Inclusive, quando todos os caos vieram juntos com o começo da pandemia, ela não saiu do meu lado. Em em muitos momentos, segura no meu rosto e esfrega minha cara na dela dizendo que está comigo, já me deu uns tapas também. Com ela tu enverga, mas não tomba. Eparrei. <3
Por que consumimos tanto?
Bom, lá na primeira diluída falei de liquidez e de consumo, vocês lembram? Seguindo, essa linha de estudos e transformações sociais eu te pergunto, você não tá um pouco exaurido de tudo? Eu digo por mim: às vezes eu não sei se to na música Cotidiano do Chico Buarque ou se vou ser abduzida pela quantidade de mensagens, ligações, email, redes socias e informações que chegam sem parar. Eu não sei se foi só pra mim, mas o impacto da sociedade da hipercomunicação chegou como uma voadora do sub-zero no meu peito.
A real é todo o modelo social que tínhamos de estrutura de trocas, encontros, festas, sentar na mesa de bar e conversar, mudou pro Zap, Zoom, Meetings e etc. Sem contar, as redes como Instagram e TikTok. Tirei um print do uso do meu Whatsapp, que tenho há muito tempo, e já recebi, só de mensagens, mais de 830.000 e respondi mais de 375.000. Confesso, que achei muito perturbador esse volume de mensagens (depois vê o seu e me conta). Durante o recesso, fiz um belíssimo detox de tudo isso aí. Nossa, me fez um bem danado, mas com a volta do trabalho e todos os 500 grupos de tudo quanto é coisa, voltei a essa doença.
Mas, por que to falando sobre isso? Bom, o começo da minha carreira profissional foi em telecom. Sim, em 2008 eu vendia pacote de voz, SMS, Ringtone e uma lista enorme de coisas que não usamos mais. As mudanças das telecomunicações é algo avassalador nas nossas vidas. Passamos em muito pouco tempo da sociedade que telefone estava no testamento, pra lançamentos anuais de Smartphones que hoje chegam a cada dos R$12.000,00. Num é muito loko?! Ou só eu piro nisso?!
Uma outra coisa que me faz pensar muito nessa sociedade da hipercomunicação é o streaming. Lá em 2009, quando tudo em relação a isso era mato, eu e Bruno Vieira, meu ex-chefo, começamos a pensar sobre a questão relacionada a música, assim surgiu um projeto Co-Branded OiRdio. Hoje, são diversos tipos de plataforma diferente e a posse sobre DVDs, CDs, Fitas tá meio demodê, né?! Só o vinil conseguiu ganhar mercado ao longo desses anos.
Mas o que eu quero dizer com isso? TUDO ISSO É CONSUMO. O seu play, a sua mensagem, a modelo do seu telefone. Dentro de um processo onde as modificações são muito rápidas, a quantidade de lixo gerada é enorme, a obsolescência programada impera e ainda tem a guerra do 5G.
Pros antenados online ou para quem trabalha com a comunicação como o eu, a semana passada foi uma verdadeira sacudida com a chegada no Brasil do Clubhouse. Uma nova rede social totalmente baseada em audio. Eu estou imersa na plataforma desde que entrei por conta dos clientes. Nessa minha pesquisa achei alguns links interessantes que vou compartilhar com vocês.
Para quem tiver iOS e quiser convite, responde esse email com seu telefone que te convido. Prometo diluir mais sobre isso, tá muito cedo pra gente pensar como será e como vai se comportar essa rede. To pensando também em diluir algumas coisas por lá.
A verdade: Saudades do Nokia cobrinha! <3
Você tem fome de que?
Há um tempo atrás lendo um livro, tive uma epifania que só pensava: "Por que diabos não pensei nisso antes?". Imagina só, a Europa "berço da humanidade", segundo a visão eurocentrista, começou sua dominação sobre outros povos, sobre tudo todo o projeto de colonização baseado em COMIDA.
"Ah, Liana, para com isso, cê tá doidona?!" To não, vem comigo!
Bom, depois de passarem uns séculos na merda, a igreja bombando de grana, Constantinopla conquistada e o caminho por terra dominado. Aí, nessa, os Portugueses e Espanhóis, exprimidos na ponta do continente, cercado por uma galera que também fodia a vida deles pensaram: "Bora se jogar nesse marzão de Deus!". E assim começa a famosa expansão marítima ou era das grandes navegações. Uma galera acha um grande feito pra humanidade, o começo da globalização que conhecemos. Eu confesso que foi uma grande fodelança.
Essa expansão foi totalmente baseada numa tríade: mercantilismo (novos mercados e terras), exploração (matéria prima e mão de obra) e religião (catolicismo e patriarcado). Segundo os livros de história e vários sites que olhei pra escrever isso, todo mundo classifica esse rolê como um êxito. Você já parou pra pensar na puta falta de sacanagem que é descobrir um lugar que já tem gente vivendo lá? A real é que não foi descobrimento de porra nenhuma foi invasão e genocídio mesmo.
Se olharmos paras as primeira viagens, a galera foi toda pra África, primeiro por que eles sabiam que tinha território ali, a Península Ibérica teve séculos de invasões mouras. Além disso, eles ainda precisavam aperfeiçoar os instrumentos e assim surge a Escola de Sagres em 1417. A partir daí, começa tudo e não fica achando que eles enfrentaram monstros, mares revoltos e não sabiam pra onde estavam indo. Eles não eram terraplanistas. Depois de invadir, criar as rotas, começar a voltar é aí que a galera cresce o olho e outros países entram na jogada: Portugal começou, depois veio a Espanha, França e quem botou pra quebrar os Holandeses.
Bom, nesse processo o açúcar era uma das mercadorias mais valiosas, junto com as especiarias. Com isso, essa troca de produtos foi ocorrendo, as batatas e tomates foram pra Europa e formaram uma cultura alimentar que fica difícil pensar que a culinária típica de alguns países nunca teve esses ingredientes. Por aqui, também entraram novos cultivos e uma nova cultura alimentar que é uma mistura de indígena, africana e portuguesa foi se formando. Por isso, precisamos sempre desenvolver um olhar decolonizador sobre o alimento. Isso é uma introdução ao que vou diluir com vocês nas nossas próximas conversas.
O que você vai fazer quando tudo isso acabar?
Bom, só o fato de você estar recebendo essa newsletter no Carnaval já diz muito sobre como estou vivendo esses dias. Triste, murcha, chateada, chorando pelos cantos, com saudades daquela fantasia eterna dos dias da folia do momo. Por isso, fica aqui a minha homenagem aos deuses do carnaval e um fio de esperaça pra todos nós.
O que mais você precisa saber?
Esse vai ser um tópico fixo com um mix de coisas boas da penca de abas abertas do meu browser. ;)
Ailton Krenak: próxima missão do capitalismo é se livrar de metade da população do planeta.
Coca E AMBEV manobram para lucrar com impostos e recebem R$ 1,6 BI de Guedes e Bolsonaro.
Vida Negras, um podcast original do Spotify, o jornalista Tiago Rogero analisa e entrelaça obras de personalidades negras. Coisa mais linda!
A próxima Diluída chega mês que vem com um tema que tá bem latente e ela já tá sendo escrita desde o mês passado. Ela vai falar também de mais uma mudança que vou passar nesse próximo mês.
Sugestões, reclamações, correções de português ou diálogos, é só responder esse email.
Beijos,
Lili